ESCREVER APÓS TÍTULO por João Lino


Escrever após o título, como adepto Sportinguista, é fácil… ou talvez não. Quando se tenta explicar o sucesso, há sempre o reverso da moeda ao tentar explicar o porquê de tantos anos do Sporting terem sido associados a insucesso no futebol sénior. Apesar de não gostar de colocar holofotes em causas individuais, explicaria o título em quatro razões mais importantes:

 

  1. Ruben Amorim

Um cântico entoado pelos adeptos no estádio tem a seguinte letra: “No outro dia, eu fui a Braga. Vi um treinador que me agradava! Não tinha curso, não me importei! Enviei 10 milhões por Mbway! Rúben Amorim, Rúben Amorim, Rúben Amorim, estou louco por ti”.

 

Quando, a 3 de março de 2020, o presidente Varandas apresentava um “lampião” sem formação para treinador principal, gastando uma verba que chegou aos 14 milhões de euros por problemas de tesouraria, após 5 falhanços de treinadores nos primeiros tempos de presidência, o cântico que se ouvia nas bancadas no dia 8 de março no jogo com o Aves, antes da pandemia, era: “E oh Varandas o que é que fazes aqui? A presidência não é lugar para ti, o nosso amor é o SCP Allez!”

 

Razão pela qual Maria José Valério, cantora do hino do Sporting na última aparição pública, era vaiada por uma multidão enfurecida, por ter saudado Frederico Varandas.

 

Foi neste contexto que chegou o “agora” aclamado Rúben Amorim, que fez uma pergunta básica: “E se corre bem?”

 

Rúben Amorim, apesar da malfadada viagem a Londres nas vésperas de um jogo com o FC Porto, tem tido um percurso brilhante na comunicação, na gestão de balneário, na implementação de processos e na coesão do clube, mas também feito jus ao lema que queria implementar, o qual dizia que, quando um jovem tivesse de escolher um clube para representar, escolhesse o Sporting, porque teria oportunidades de se desenvolver. Varandas e Hugo Viana acertaram num verdadeiro condutor de homens e alguém com muito conhecimento do jogo, mas com a humildade suficiente para assumir responsabilidades, não se esconder nas arbitragens, nem deixar de compreender os contextos.

 

  1. Sistema

Onze dos jogadores do plantel foram campeões duas vezes e quatro deles são da formação do Sporting. De uma forma rotativa, 26 jogadores jogaram sem interferir na dinâmica coletiva apresentada. Apesar da “invenção” Inácio no jogo do Dragão, maioritariamente todos os que entraram conhecem o sistema. Não afeta a troca de qualquer dos elementos o que permite que um Ricardo Esgaio possa brilhar mesmo com as limitações conhecidas. As peças sabem onde e quando devem entrar. Sabem o que fazer com a bola e a eficácia ofensiva, apesar de ter um Gyökeres como expoente máximo, tem um coletivo que permite 92 golos no campeonato, ainda com duas jornadas para cumprir.

 

  1. Crença

Dezasseis dos pontos conseguidos no campeonato foram feitos nos últimos minutos dos jogos. Só o Leverkusen tem melhor desempenho. Os jogos são disputados até ao último minuto e mesmo num jogo menos conseguido como foi o de Vila do Conde, que resultou num empate a 3, o esforço, a capacidade de sacrifício e entrega foram dados até ao último momento. Não houve um jogo dado por perdido e a capacidade física, apesar das várias competições, só foi fragilizada pouco antes de sermos eliminados pela Atalanta na Liga Europa, o que permitiu, após esse infortúnio, disponibilidade de tempo para recuperar e enfrentar a última fase do campeonato e taça com outras condições físicas e com a mesma entrega. É só observar os treinos da recuperação defensiva para entender que a crença estava associada a um capital físico e a um trabalho invisível de treino.

 

  1. Massa Associativa 

Houve jogos em que os adeptos, sócios e simpatizantes levaram a equipa ao colo. Os jogos com o Farense e com o Estrela da Amadora em Alvalade demonstraram que a crença em alcançar o objetivo era partilhada pelo simples adepto. Os cânticos começaram no início da época, os aplausos substituíram algum assobio e o jogo a partir de trás, com circulação de bola, já não irrita os adeptos. A noção de que a vitória está ao virar da próxima jogada foi partilhada por todos. O Cântico “O teu lugar, o teu lugar, grande Sporting, O teu lugar, o teu lugar é aqui, O teu lugar, o teu lugar, grande Sporting, É primeiro até ao fim” foi entoado a partir do momento em que o Sporting assumiu a liderança, seja isolada, seja partilhada. Em todos os estádios, nas estradas, o apoio foi constante. A crença era partilhada por todos, incluindo os mais céticos. Tudo isto tem atraído uma nova geração para o Sporting e um núcleo forte feminino. Onde vai um, vão todos!

 



Haveriam outras razões para explicar o sucesso, como a ausência de lesões nos jogadores mais importantes, as contratações cirúrgicas no início da época, o trabalho invisível da estrutura, as grandes contratações de Eduardo Quaresma (jogo incrível com o FCP na primeira volta), Daniel Bragança (que jogador se tornou) e a reciclagem com aproveitamento de Geny Catamo (que golos ao Benfica na 2ª volta). O 4º lugar na passada época foi a mola para uma mudança de paradigma. O Sporting já não quer ser relegado para segundo plano e tem sede de conquista. Já não se canta só a levar 5 do Manchester City, quer-se mais.


Quando Rúben faz o “mic drop” ao falar aos adeptos na festa do Marquês, fechando um triunfo e uma afirmação: Ele e toda a Equipa querem lutar pelo Bicampeonato, independentemente das novidades que o mercado possa trazer. Afinal, a sede de conquista não está inebriada nos beijos do presidente, está partilhada por uma geração que se revê num Sporting jovem e ambicioso, em que todos têm lugar e todos são incluídos.



Opinião do Leitor: João Lino

Imagem: David Resina de Almeida



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