Escrevia em maio sobre Confiança, Compromisso e Foco, na essência uma reflexão sobre a dinâmica de Ruben Amorim no Sporting.
Escrevo no dia após a confirmação de todos os intervenientes de que Ruben Amorim seguirá para Manchester após cinco anos de préstimos ao nosso Clube.
O que sente um Sportinguista com esta decisão de Ruben Amorim a meio de um caminho de chegar ao bicampeonato?
Que se perdeu a confiança.
A confiança após o episódio do avião, após a conferência de imprensa da passada terça-feira, perdeu-se a confiança de que o coração estivesse no sítio certo, que o compromisso estivesse a 100% e que o foco estivesse no objetivo definido num” micro drop”.
Qualquer pessoa que tivesse um desafio que lhe aumentasse a conta bancária, que lhe aumentasse o prestígio, a fama e a visibilidade diria sim. O sim é natural.
O que não é natural: Deixar na mão milhões de pessoas que se comprometeram e se vincularam a um objetivo partilhado. Sim porque a chegada ao marquês implica o envolvimento de todos.
A meio da época, não é o final da época.
Pode ser alegado que o “comboio não passa duas vezes na mesma estação”, mas um treinador em destaque com 39 anos, com uma carreira ainda em crescendo não poderia escolher o clube que quisesse no final da época?
Grande admiração pelo percurso do “nosso treinador a prazo”, pelas conquistas, pela capacidade de comunicar, pela gestão de balneário, pelo futebol apresentado, pelo ambiente criado.
Ruben Amorim tinha-se tornado homem da casa, um “lampião” adotado e parte de nós.
Quer isto dizer que o facto de ele ter partido, primeiro no coração e depois no campo, voltou ao ponto de partida o lema que tinha adotado: 0 Ídolos, Sporting Sempre.
Continuo com o dilema entre gratidão e mágoa e ressentimento.
Este é o momento da “prova do algodão”: Saber se a estrutura do Sporting Clube de Portugal existe ou se era unicamente um projeto Ruben Amorim.
Este será o momento de verificar se Equipa, Estrutura, Adeptos e futuro Treinador serão capazes de levar ao Marquês o Sporting Clube de Portugal.
E se com João Pereira corre bem?
Afinal este foi o momento preciso para saber se o que o Sporting construiu nos últimos 5 anos tem a solidez de sobreviver à partida do Diretor Desportivo, do Treinador Principal e Adjuntos e de uma dinâmica de pertença que se esvaziou num assédio de um clube que nos tem esvaziado de estrelas em desenvolvimento, começando no Cristiano Ronaldo terminando no Ruben Amorim.
Como dizia um taxista em Manchester do United há uns anos quando lhe disse que era do Sporting Clube de Portugal, disse perentório: Um Clube “feeder”. Ajudo na definição: Pessoa ou objeto que fornece algo a algo ou pessoa de maior importância.
Talvez a maior infelicidade da nossa realidade desportiva é que os nossos clubes são alimentadores de outras realidades mais fortes. Podemos dizer que somos dependentes de uma realidade financeira, mas os 11 Milhões de Euros que o Sporting vai receber não farão a diferença na realidade financeira do Sporting, mas um lugar fora da liga de campeões isso sim é uma perda fundamental na realidade da marca Sporting.
O Ruben Amorim partiu, ainda não formalmente, mas partiu na decisão e na vontade.
Ruben Amorim partiu também do nosso coração, mesmo que tenha sido o melhor treinador dos últimos 50 anos.
Custou, mas o presente e o futuro não se fazem de memórias nem de gratidão. O presente e o futuro fazem-se de novas pessoas, de novas conquistas e de nova estrutura.
Afinal o olhar para desilusões não devolve dinâmicos de conquista e crescimento.
Terça-Feira lá estarei para despedir Ruben Amorim de Alvalade. Aplaudirei a sua despedida, desejar-lhe-ei tudo de bom, mas em Inglaterra a minha preferência clubística não mudará de clube por ele ir para o United.
Afinal no Liverpool, bem como no Sporting “we never walk alone”, caminhamos em conjunto, rumo ao futuro como equipa e não como individualidades ou ídolos. Mesmo que Gyo seja superstar e com risco de também ele sair, o que temos é um símbolo centenário que é mais que um clube, é um estado de alma de Confiança, Compromisso e Foco dos que ficam, dos que não partem, dos que sentem que o topo da carreira tem o símbolo Leão no peito.
E o Sporting é o Nosso Grande Amor!
João Lino
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